domingo, 14 de julho de 2013
• GEPE
Fui de visita à minha tia a Marrocos, hip hop…
Bem… não foi bem isso o que o meu dia de ontem foi. Mas foi quase. Fui a um congresso de gente feliz.
Para os devidos efeitos, oficialmente este magnífico evento levou a denominação de "Congresso GEPE - Juntos vamos mais longe!".
GEPE*, como se pode ler em cima na imagem no topo deste post, é uma sigla que descodificada significa "Grupo de Entreajuda para a Procura de Emprego".
Existem cerca de uma trintena ou mais destes grupos por todo o país. E todos os dias podem nascer mais outros. Curiosamente, Coimbra ainda não foi contemplada com um destes grupos…
Alguém dentro de um destes grupos já disse que sim, que os GEPE até podem ser comparados aos grupos de Alcoólicos Anónimos. Só que a queda no vício do alcoolismo não é, regra geral, involuntária ou imprevisível. E o surgimento de uma situação de desemprego, sim, pode muito bem ser.
No resto, em ambos os tipos de grupos há uma grande vontade, colectivamente partilhada, de mudar as coisas.
Mas também há uma outra visão sobre esta situação temporária, tão socialmente estigmatizada. Para além da vontade de mudança, tem de haver a aceitação do desemprego como uma oportunidade.
Isso foi realçado por uma voz, ao menos, neste congresso de gente feliz, como já atrás o classifiquei. Gente que, já agora, nem parecia um bando de desempregados. Como repetidamente foi realçado por alguns participantes. Porventura foi esta a voz que eu mais escutei com atenção. A de uma grande senhora, mãe de quatro filhos e dona de um elevado nível de auto-conhecimento. Aparentemente. É de sua graça Patrícia esta mulher singular. Bonito nome...
Que fez questão de dizer a todos que o desemprego pode atingir qualquer um, em qualquer lugar. Até a ela, que teria um cargo na função pública na Presidência da República.
Mais fez questão de contar que desceu ao pior de si, provavelmente em termos de auto-controlo, mas que reverteu esse estado de alma e - frisando bem de antemão que não a interpretassem mal - declarou que... gosta neste momento de estar desempregada.
Porque o desemprego pode ser mesmo um tempo de oportunidades. Porque se fica com mais tempo para nós próprios. Tempo que não está disponível em quantidade e qualidade quando estamos entretidos a consumir as nossas vidas em horários normais de expediente, cinco dias por semana.
Podemos encarar as carreiras profissionais de cada um de nós como searas de trigo. E o desemprego como um período de pousio. Um tempo de renovação em tranquilidade.
O desemprego é, afinal, um problema social que é efeito colateral da revolução industrial e de toda a natural evolução da nossa civilização que se lhe seguiu. E veio para ficar.
Ciclos de abundãncia e de carência nas economias global e nacionais hão-de alternar-se para sempre e os níveis de desemprego não terão outro remédio senão acompanhá-los. E tudo escapará grandemente ao controlo que nós, enquanto indivíduos, poderemos ter das nossas existências, em permanência.
E é isto que se me oferece contar à laia de balanço pessoal de um dia de imersão numa pequena multidão constituída por uma élite de gente que é sedenta de energia positiva.
* Os GEPE são um projecto promovido pelo IPAV - Instituto Padre António Vieira.
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