segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

• Fado

Ando a carregar comigo um karma terrível!...

Nos planos profissional, financeiro e sentimental - os usualmente objecto de notas nos horóscopos - estou na maior mó de baixo... ou quase. Não está a ser fácil suportar esta cruz. Mas só de mim me devo queixar. Das más opções de vida que venho tomando há já alguns anos.

Tenho aquilo a que se costuma chamar um "Mac Job". Um trabalho socialmente desprestigiado. E onde por comodismo e preguiça me auto-limito a apenas seis horas diárias de suor. Por cuidar que não consigo aguentar mais do que essa dose de quotidiana penitência. Porque é isso mesmo o meu emprego: uma penitência que me imponho a mim próprio. Por absoluta necessidade de ter um salário garantido. Garantia essa que já seria muito bom tê-la para muita gente. Mas para além dessa segurança, eu queria ainda ter alegria no trabalho. Volta FNAT, estás perdoada. E já não tenho essa alegria há muito. Ou se calhar nunca a tive verdadeiramente. 

No que às minhas finanças pessoais diz respeito, tenho acumulado dívidas que, para as liquidar totalmente hoje, tal iria exigir cinco meses de trabalho meu, ao ritmo salarial que hoje valho. Não tenho falhado ainda nunca no cumprimento das prestações que devo pagar. O que já é mais do que outros podem dizer, que já estão em incumprimento crónico. Mas eu gostava de ter a minha ficha limpinha de valores em dívida. Ambição desmedida para os dias de crise de hoje, onde até nações inteiras vão á bancarrota? Quando ao nível individual até na classe média-alta há tanta alma endividada até ao tutano... sei lá!... como disse um dia uma tia e alguém depois escreveu um livro com esse título tão... sugestivo.

No campo do Amor... ai, ai... estou separado da minha ex-companheira, desde o dia seguinte a ter celebrado tristemente o meu meio século de idade. Onde pus, irreversivelmente talvez, término a uma relação união de facto de nove anos de duração. A mais longa relação conjugal que vivi. Com uma mulher maravilhosa. Que eu já via a cuidar de mim quando eu estivesse nos meus oitentas... de tal modo a ela me habituei. Embora não a soubesse amar como ela merecia. E nela o desencanto por mim foi medrando... até deixar de existir encantamento algum de todo hoje, por mim enquanto homem. Talvez só como amigo posso por ela ser encarado. Quando já cheguei a ser a sua outra metade dita inseparável - e ela a minha - este status quo dói na alma. Mas ser amigo desta maravilhosa criatura dos deuses, que a minha ex-companheira é, faz com que me sinta privilegiado. Ao lado dos casos pessoais daqueles que também já foram plurais em casais e agora são unidades singulares humanas com divórcios mal resolvidos.

Posto tudo isto assim, até nem me posso continuar a queixar do meu fado. Como o fiz logo de entrada neste post. Ou posso?

É que para além do atrás exposto, eu perdi recentemenete uma boa parte das memórias físicas da minha vida actual.

Vivi cerca de 27 anos, não consecutivos, da minha existência numa casa velha, enquadrada numa quinta, numa área outrora rural, hoje densamente urbanizada. Quinta essa cujo poço de águas abundantes tem uma data inscrita na pedra cimeira do seu arco: 1740. Quinze anos antes do grande terramoto. Casa essa que um perito, cujo nome desconheço de momento, defendeu um dia como moradia do escritor e político Ramada Curto. Apenas por alguns breves anos da sua vida, presumo eu.

Essa casa foi demolida sem apelo nem agravo na sua quase total área edificada no passado dia 13 de Janeiro deste ano aziago que só agora começou. E nos seus escombros ficaram soterrados alguns pertences pessoais que vinha teimosamente preservando dentro desta casa. Não lhes dando assim também a melhor forma de conservação possível.

É triste não se poder salvar as paredes dentro das quais se viveu. Ou aquilo que se guardou durante anos a fio. À espera de ter um dia uma casa condigna para no seu interior conservar finalmente bem o acervo de uma vida. Mesmo que esse acervo fosse essencialmente bric-à-brac e papeladas.

E no entanto, apesar da tristeza que me invade a alma, ainda me permito sonhar. Sonhos utópicos e irrealistas, concedo, mas sonhos todavia.

Ideias peregrinas... que é o que não me falta. Como esta que desenvolverei num outro post que se seguirá a este. E que tem ao de leve um pouco a ver com o Fado. A canção nacional portuguesa. A paixão da vida da minha ex-companheira. Que nunca foi uma das minhas maiores, ou sequer menores, paixões. Mas é a dela. E para eu me sentir mais próximo dela, da sua vocação artística, vou abraçar uma ideia de um projecto nessa área musical. A descrever posteriormente à finalização deste post que já vai longo. E depois ninguém o quer ler até ao fim. Até aqui, este vasto texto funcionou apenas como um teaser para a exposição posterior de uma ideia, que julgo prenhe de alguma originalidade. Que é o que mais falta faz ao velho Fado português.