quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

• Peregrinação - o filme

Peregrinação. Um livro incompreendido. Ainda pouco realçado, ao menos em relação ao que mereceria, a meu ver. E este blog chama-se “Ideias Peregrinas”, não é?… Então… Tem tudo a ver.

Fernão Mendes Pinto. Um obscuro personagem, menos lembrado que o seu mais ilustre contemporâneo Luís Vaz de Camões. Porque não escrevia em verso. Mas cuja vida e obra já merecia um filme, também.

Em Portugal os filmes que cá se fazem raramente podem contar com orçamentos generosos para a sua feitura. Portanto, este foi o filme possível de ser produzido. Um filme de autor. Receita clássica, ao velho estilo do cinema europeu. Ou o que tem de ser tem muita força.

Talvez não muito fiel e valioso em termos de reconstituição histórica. Mas com uma fotografia com nota artística alta. O que já não será nada mau de todo.

Mais pobre resultado final teve, julgo eu, o filme “La mort de Louis XIV”, do qual já me ocupei num post de outro blog meu.

Filmado na China, Japão, Índia, Malásia, Vietname e Portugal, dizem acerca da produção desta obra da sétima arte… Com tantas andanças assim, eu julgo que os cenários naturais poderiam ter sido um tudo nada melhor explorados. A coisa deve ter-se quedado tal qual devido á velha história do bom ser inimigo do óptimo…

Sob um outro ângulo, ás tantas este filme parece mais ter sido feito para promover uma antiga obra musical de Fausto com o mesmo título e sobre a existência do mesmo aventureiro.

Podia ter sido mais enriquecido em substância, este filme… Mas não envergonha o seu realizador, João Botelho. Alguns podem achar o seu visionamento algo enfadonho. É no entanto necessário olhar para esta criação artística com alguma benevolência. Por causa sobretudo da fotografia, uma vez mais volto a frisar.

É também uma oportunidade para nos maravilharmos com a doce interpretação de uma actriz dona de uma graça e beleza bem raras. Raríssimas. Sublimes. Ilustradas exemplarmente neste filme.

Falo de Jani Zhao. Que temos a sorte de ter nascido entre nós, em Leiria. Enquanto ela tem a desventura de não ter nascido em Beijing. Ou ainda melhor, quiçá, em Beverly Hills. Mas há-de lá chegar. Se algum olheiro puser a mira nela.

Assisti a este filme ontem. E mais uma vez foi singularmente feliz e reconfortante aquela transição do sonho para a realidade que nos acomete sempre que se sai da sala do cinema para a rua cheia de transeuntes alienados pela hora de ponta do crepúsculo.

Um dia destes, com sorte saio do nimas com ela a meu lado. E a coisa será ainda mais cool.
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Nota: para ver um trailer deste filme, clicar aqui.