Afinal de contas, esta humilde pátria minha lusitana onde me arrasto ainda me consegue surpreender e até encantar…
Desapontado e cansado das paisagens que me são habituais andei por muito tempo. E também saudoso de outras paragens onde já tive a ventura de viver temporariamente. E por isso é um deleite imenso quando algo novo e sobretudo belo surge diante dos meus olhos, aqui no jardim à beira-mar plantado.
No passado mês de Maio tive um desafio profissional como motorista de turismo, partilhado com mais nove colegas. Que nos levou até uma mui nobre e singela unidade hoteleira bem nesse coração do prazeirento Alentejo, que se revelou um autêntico pequeno paraíso.
Falo da ainda meio secreta herdade de
São Lourenço do Barrocal, à beira da estrada nacional entre
Monsaraz e
São Pedro do Corval.
Neste
hotel de charme estiveram alojados durante um fim de semana cerca de setenta cidadãos suíços, que constituíam um grupo empregados de uma empresa de informática - cujo nome é um segredo profissional - envolvidos numa sessão de team building. E nós, eu e outros nove magníficos gentlemen, tivémos a missão de os levar a passear por aquela região, em dez não menos magníficas e luxuosas vans Mercedes classe V.
Encetámos por ir até um cais fluvial na albufeira do Alqueva para que embarcassem num passeio de barco por aquele lago artificial.
Fomos depois pela tardinha recolhê-los - para os trazer de regresso ao conforto do hotel do
Barrocal - numa recôndita propriedade rural á beira do rio Guadiana, onde este curso de água faz o papel de fronteira natural com a vizinha Espanha, no concelho do Alandroal.
Herdade da Granja assim se chamava a propriedade. E para lá chegar e voltar, metemos as 10 Mercedes classe V por estradões de terra, mais próprios para veículos todo-o-terreno. Convivendo com muito pó, inevitavelmente.
Ademais, esta caravana de 10 Mercedes classe V, pretas e de vidros fumados, atravessando pequenos povoados - com curiosos e cómicos nomes, como por exemplo Cabeça de Carneiro - onde quase só se vislumbrava gente idosa deveria parecer a estes como que se tratasse de alguma espécie de congresso da máfia russa, a decorrer nas suas pacatas terrinhas…
Foi giro ver as caras de espanto dos transeuntes - e até dos rebanhos de ovelhas - ao serem fatalmente surpreendidos por todo aquele aparato mecânico.
Ao fim do primeiro dia da missão, era mister proporcionar aos suíços a experiência de entrar num dos mais famosos templos gastronómicos de todo Portugal: o
restaurante Fialho, dentro das muralhas de
Évora. Onde eu ainda tenho de ir orar um dia…
E no segundo dia, toca de irem a uma prova de vinhos seguida de um belo repasto na
Herdade do Esporão.
Que é só a melhor casa vinícola na capital do vinho em Portugal, a calorosa vila de
Reguengos de Monsaraz.
Onde tantas outras vinícolas se localizam. Mas onde o
Esporão se destaca, pela vastidão por onde as suas vinhas se espalham, a perder de vista por toda aquela planície.
Finalmente, para rematar estas jornadas duma pura
dolce vita, um jantar ao luso-fusco no
restaurante Xarês, dentro das muralhas do altaneiro castelo de
Monsaraz. Com uma mais que belíssima
implantação na paisagem alentejana. Dum lado o lago do
Alqueva, que me fez lembrar o país dos mil lagos. Do outro, um horizonte alargado sobre uma campina plana abaixo dos nossos pés. Servida por uma luz dum
sunset apaziguador. O perfeito repouso do guerreiro que há dentro de todos nós.
Finda toda esta missão, regresso á capital pela auto-estrada. Sempre a abrir. Agora meio desgarrados. Não já como no início deste assignment, quando seria impressionante também ver uma fila compacta de 10 Mercedes classe V pretas a ultrapassar todos os outros condutores domingueiros de veículos indolentes. E nós, voando baixinho, pairando bem acima dos valores legais de velocidade máxima permitida… ;-)
A indústria do turismo em Portugal vive dias promissores, quando vemos o nosso país ser escolhido para organizar eventos como este. E sobretudo quando vemos a felicidade estampada nos rostos de quem viveu estes dias intensos.
E isto faz a nossa própria felicidade, de nós, lusos.
Para além de tudo o que foi relatado acima, há ainda que dizer que é bem encantador e reconfortante percorrer o rude caminho desde o portão da estrada nacional até ao casario do hotel do
Barrocal, caminho que soe ter uma boa moldura constituída por uma manada de pachorrentos bovinos, pastando ou ruminando e mirando-nos, meio indiferentes a toda a nossa humana azáfama. Quiçá sentindo até alguma pena de nós...
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Nota: Não posso esquecer de referir dois lugares onde nós,
drivers, tivémos a oportunidade de degustar a genuina gastronomia do Alentejo. Deliciosa, como sempre. Para dar livre curso ao pecado da gula. Falo da
Adega Cachete, em
São Pedro do Corval, e do
restaurante O Pingo, em
Reguengos de Monsaraz.
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