quinta-feira, 26 de setembro de 2013

• A guerra fria de trazer por casa

Eu tenho uma maldição que se deve propagar por contágio!…

Acontece-me bastas vezes descobrir um pequeno comércio - loja, cafetaria, restaurante, etc. - novo, que vejo com algum conceito inovador que o diferencia dos demais. Despertada a curiosidade, visito-o uma vez. E depois não tarda nada que esse pequeno negócio feche as portas de vez!…

Eu dou azar áquilo de que gosto, caramba!...

E isto não acontece só desde que esta malfadada crise económica começou a ser falada por más e boas línguas. Não. É talvez desde que me conheço e que "sou de maior", como dizem os tupiniquins.

Por tudo isto hesitei durante algum tempo em abordar o tema de hoje. Duas lojas mais ou menos recentes nesta cidade de Lisboa. Não fossem estas abrir falência…

Só o faço agora porque me certifiquei que até têm ambas planos de expansão do seu negócio, como o comprovei neste site, aqui.

Uma destas é a Liberty American Store. Que abriu vai para um ano e meio no Largo São Sebastião da Pedreira, em Lisboa. Que eu vi inicialmente como uma espécie de loja de chineses vulgar de Lineu, mas só para produtos made in USA.

Na verdade não é bem assim. Enquanto uma loja chinesa de bairro tem geralmente na sua gama de produtos de tudo um pouco - ferramentas, utensílios domésticos, ferragens, brinquedos, têxteis, etc. - menos produtos alimentares, nas lojas Liberty passa-se praticamente o contrário. 

Aí o destaque vai para aquelas gulodices que são apenas boas para a engorda dos yankees. E para produtos vendidos em embalagens king-size, que para os nossos hábitos de consumo pobretes mas alegretes até chega a soar a pornográfico…

Digo, por exemplo, especiarias como pimenta moída em embalagens plásticas de 1 kilo. Batata frita em sacos que parecem umas enormes almofadas de cama de casal. Sumos de laranja em pó solúvel em latas de 5 litros. Chocolates da incontornável Hershey's e doces em packs para famílias bem numerosas. E outras coisinhas assim todas, todas pró abrutalhado. Numa palavra, em GRANDE.

E depois há aquelas pequenas surpresas bem agradáveis de encontrar. O maior leit-motiv que me levou a entrar nesta loja foi saber de antemão que ia poder comprar um famoso molho barbecue… da marca Jack Daniels, esse absolutamente iconográfico bourbon ou Tennessee whiskey, como se queira.

E por falar em barbecue, temos lá bancadas com grelhadores para fazer o nosso churrasco texano com todos os matadores. Assim como ferramentas para jardinagem, tacos de golf, acessórios auto, produtos de limpeza e higiene, etc. Quase tudo, tudo sempre exclusivos que não se poderão adquirir senão ali.

E por agora deixemos os States, que está praticamente tudo dito de intertessante. A outra loja a que me queria referir é a Mix Markt, que descobri vagueando pelo bairro de Alvalade, num dia solarengo da mossa lindinha capital.

A primeira impressão que aquilo me causou era que devia ser uma simples loja, iniciativa de empreendedorismo de um emigrante do leste. A verdade é que não. Não é uma loja única. É uma cadeia de distribuição, na linha do Lidl ou do Aldi, mas em uma dimensão menor. E a sede desta cadeia não está para lá da antiga cortina de ferro, não! Está em Herrenberg, perto de Stuttgart.

Algum alemão viu um nicho de mercado florescente nos emigrantes da Europa de leste que invadiram o ocidente, pensei eu… Tenho sempre simpatia pelos ditos "mercados da saudade". E parece que é só este mesmo o seu público-alvo…

É que não se nota um esforço realmente adequado para cativar outros clientes quando se entra no Mix Markt! Empregados reduzidos a um mínimo necessário: dois. Pelo menos durante os dias úteis e num horário matutino. Talvez ao fim de semana se reforcem.

Disponibilidade para questões de clientes: reduzida. Nem o meu "bom dia" obteve eco. Mas deve ser só comigo...

De resto, vale a pena entrar as suas portas. É como uma viagem. Como sermos teletransportados de repente para dentro de um MiniPreço dos arrabaldes de Kiev.

E o que esperar ver lá dentro? Carradas de frascos de vidro com pepinos em conserva. Que é o que pessoalmente sempre me impressionou sobremaneira nas variadas lojas de produtos alimentares originários do ex-bloco de leste…

Mas além disso, há também caviar. De beluga. A preços engraçados. Peixe seco. Arenque, salmão e anchovas, creio. Uma charcutaria rica e igualmente interessante. Mais conservas. De peixe. De sopa (borscht). Até de melancia cortada em triângulos e conservada em calda!… Mas a grande palma de ouro vai para…

...a secção dos vinhos. De encher o olho a qualquer neófito curioso sobre néctares, comme moi. Exclusivamente - ou quase, não tenho certezas, como se poderá compreender in loco... - vinhos da Moldávia. Com rotulagens apelativas, se bem que modernaças.

Absolutamente encantador, o garrafame lá exposto. A Moldávia é ou ainda há-de vir a ser um produtor de vinho de relevância mundial. Não é por acaso que as duas maiores adegas subterrâneas do mundo estão neste país. E que são a sua principal atracção turística.

Os vinhos da Moldávia têm de ser mesmo um dos maiores segredos globais por revelar!…

E se a juntarmos aos vinhos falarmos ainda das bebidas espirituosas, tão características daquelas partes do globo terrestre… Bué de marcas de Vodka, camaradas!!! E cerveja. Duma marca que aprecio deveras. E que está a ficar mundialmente famosa: a Baltika. Com muito mérito.

Ah, quem me dera ser o director de marketing de qualquer uma destas duas lojas, a americana ou a russa!… As ideias peregrinas que não me ia apetecer experimentar...

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